quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Campo Bravo Mexicano: e no princípio havia Atenco.

A Hacienda de Atenco, hoje em dia Ex-Hacienda de Atenco, situada no Vale de Toluca, bem perto da Cidade do México, é a mais antiga ganadaria de Touros de Lide do Planeta Taurino.
A sua origem confunde-se com a conquista do México, à data Nova Espanha.
Em 1526 Hernán Cortés instala-se no fértil e generoso Vale de Toluca e dirigindo-se a seu Pai, Martín Cortés, em carta de 16 de Setembro desse ano, relata com entusiasmo as suas propriedades na Nova Espanha, em especial aquela em "Matlazingo, donde tengo mis ganados de vacas, ovejas y cerdos..." 
Em 1528 Cortés cede ao seu primo e companheiro de conquista, Juan Gutiérrez Altamirano, as localidades de Calimaya, Metepec e Tepemajalco, onde este assentou a Hacienda de Atenco.
Por ordem do Vice Rei D. Luís de Velasco, e com autorização régia de Carlos V, partiram da Velha Espanha, através de Francisco José Altamirano, as primeiras reses de casta Navarra, cedidas pelo Marquês de Santacara e seus descendentes.

E assim se fundou a matriarca de todas as ganadarias, Atenco, em 19 de Novembro de 1528, conservando-se nos dias de hoje no mesmo sítio, com o mesmo ferro e divisa, cujas cores, celeste e branco, têm origem na Nossa Senhora da Conceição de Atenco, Padroeira da Hacienda, Vestida de celeste e branco, no altar da Capela da Hacienda.


Deste modo, com reses crioulas e gado de casta Navarra, oriundo de Espanha, se viveram os primeiros anos na ganadaria, nas mãos dos Condes de Calimaya, descendentes dos Altamirano.


Os Condes de Calimaya venderam a ganadaria a Rafael Barbabosa Arzate em 1878 e aqui atingiu o seu apogeu, tornando-se uma das casas-mãe do campo bravo mexicano . Barbabosa tem a ganadaria até ao seu falecimento, 21 de Março de 1887, quando a deixa em mãos da sua sua viúva e filhos Aurelio, Herlinda, Antonio, Concepción, Juan de Dios, Rafael y Manuel.  
Em 1888 são importadas reses de Zalduendo (da linha Navarra).
Em 25 de Abril de 1897 lidam-se em La Havana, Cuba, dois touros de Atenco, que matou Juan Jiménez “El Ecijano”, tornando-se os primeiros touros mexicanos a serem lidados no estrangeiro.

Em 1910 volta a importar-se da Pátria-Mãe, da ganadaria de Pablo Romero (casta Gallardo), quatro vacas e dois sementais, cruzando-se sangue Gallardo com  Navarra (Zalduendo).


Em 1925 são adquiridos touros da Ganadaria de San Diego de los Padres, de procedência Saltillo, por importação de vacas e sementais ao Marquês de Saltillo, em 1910. 
En 1949 dissolve-se a sociedade dos irmãos Barbabosa e a ganadaria de Atenco fica sob a gerência de Manuel Barbabosa, até à sua morte em 1958, herdando-a os seus filhos Luis Ignacio e Gabriel, que a vendem, em 1968, a Juan Pérez de la Fuente. 
O novel ganadeiro de Atenco junta dois sementais, em 1977, de José Julián Llaguno procedentes de San Mateo, pela via de Torrecilla, (encaste Saltillo) e seleccionou até ao dia da sua morte, 5 de Março de 1988, passando nesse dia o legado a José Antonio e María del Carmen Pérez de la Fuente. 

A velhinha praça de tentas da Hacienda de Atenco foi palco da evolução da história da Tauromaquia no México e da própria História Universal. Nos dias de hoje predomina o sangue Saltillo, padreador da maioria das ganadarias da República Mexicana. Imortalizou-se um ferro, uma divisa, celeste e branco e já ultrapassou monarquias e repúblicas, revoluções e provações. Não se pode perder! Não se trata de  património tauromáquico, é património histórico e cultural, civilizacional.
Oxalá recuperasse o seu esplendor e pudéssemos voltar a ouvir o rugido da México, na Insurgentes, numa volta no arraste ou no regresso aos currais de um toiro de Atenco, conquistador, com divisa celeste e branco e bênção da Nuestra Señora de la Concepción de Atenco.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ir aos touros: prazer solitário ou alegria compartilhada

O ato de ir aos touros perde-se nos volumes da nossa História e das nossas histórias.
Manifestação social típica de um Povo, seja este Português, Espanhol, Francês, Americano, não importa, o que de facto importa é o que põe de acordo todos esses cidadãos: a corrida de touros.
Festa do povo para o povo, local de convívio, na corrida  "misturam-se" nobres com plebeus, pródigos com marginais, ínclitos com anónimos. Lugar de culto, não é por acaso que as primeiras touradas se realizaram nas imediações de Catedrais, Igrejas, Capelas e Santuários, para se jogar com a morte, que se jogue com protecção Divina! Até podemos pensar mais: só dois extractos profissionais vestem ouro, Sacerdotes e Toureiros, tal a importância de ambos ofícios.
Em quantas localidades do nosso Pais e da própria Ibéria o dia da procissão coincide com o dia da tourada? será acaso, para mim não, nada é ao acaso.
Mas será que devemos ir aos touros sozinhos, ou acompanhados? na realidade é indiferente, importante mesmo é ir e estar com respeito.
Quem vai aos touros acompanhado gosta de partilhar conversas, pipas, cervejas e por vezes até porrada. Por sua vez, ir aos touros sozinho pode ser um exercício aborrecido, pois não se participa em nenhuma das actividades em cima indicadas e se a corrida calha a ser aborrecida, transforma-se a tarde num verdadeiro suplicio, ou numa boa sesta, se estivermos confortavelmente (coisa quase impossível) sentados à sombra.
Mas se a corrida é, a contrario entretida, o egoísmo de assistir sozinho permite-nos absorver todos os pormenores, detalhes, cores, sons, cheiros, um conjunto de emoções e sensações que nos acompanharão até aos derradeiros dias da nossa afición.
Aspectos que facilmente se nos escapam estando em cavaqueira. 
Atenção! não criticamos esse modo de estar, reconhecemos até utilidade e motor de afición, discutir um ferro, um lance, uma pega, são fazedores de aficionados, quando ainda não se é e consolidam os que já são.
Também é verdade que é fácil travar conhecimentos numa praça de touros, portanto indo sozinho acabamos por trazer conhecidos. Há vários tipos de vizinhança de tendidos, os que dizem mal de tudo, os que dizem bem de tudo, os que não dizem nada por já não poderem, pois esgotaram a voz e o dinheiro com o vendedor de cerveja, os valentes, os medrosos...é sem dúvida um lugar idiossincrático.
Culturalmente vamos aos touros acompanhados, quer seja de amigos, de família, de companheiros de trabalho, mas sugiro que pelo menos uma vez na vida se vá a uma corrida de touros sozinho, escolhendo caso seja possível um sítio isolado, onde haja o menor número de distracções possíveis para que os nossos sentidos estejam exclusivamente focados na arena e tudo o que aí se passa, prometo que não vai haver arrependimentos, nem vai ser uma tarde mal passada e depois, façam favor de partilhar!