sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Tauromaquia - Património Cultural, e agora?

O Senado Espanhol acaba de declarar a Tauromaquia Património Cultural Imaterial de Espanha, ao mesmo tempo na Colômbia, O Tribunal Constitucional aprecia o regresso da Festa dos Toiros à capital, Bogotá, arbitrariamente subtraída a um povo, por vontade individual de um governante.
E nós por cá!?
Ambas as noticias, animadoras para a aficción, e naturalmente representativas de ventos de mudança, para serem realmente boas notícias necessitam de ratificação, tem que ser postas em prática.
Os espectáculos tauromáquicos são legais, regulados e regulamentados, quer por legislação geral e abstracta, aplicável em todo os território nacional, quer por legislação específica, no caso de Espanha, através de regulamentação das suas regiões autónomas.
Qual será a posição da Catalunha perante a declaração do senado Espanhol? Indiferença? Incumprimento? Rebelião? E qual será a posição da nação ante a Catalunha? Impunidade?
A democracia, não sendo de todo o sistema governativo perfeito, como já o havia reconhecido Churchill, poderá ser o que menos imperfeições apresenta, ou, por outro lado, mais limita os poderes, proibindo discricionaridades, arbitrariedades. Os modernos Estados de Direito, através da separação de poderes, fundados no princípio sistemático de "checks and balances", garantem aos seus cidadãos direitos, liberdades e garantias, consagrados nas Leis Fundamentais, as Constituições, e nesse sentido o direito de cada cidadão termina onde começa o direito de um outro cidadão, é sobre este pressuposto de modus vivendi que se estabelece a sociedade moderna, logo não podemos privar alguém de usufruir de algo, de exercer um seu direito pelo facto de estarmos contra ou não gostarmos, é proibido proibir.
O que tem vindo a acontecer com a Tauromaquia é precisamente o oposto, é a violação absoluta dos direitos, liberdades e garantias. Sustentados na bandeira do progressismo, alguns cidadão, felizmente ainda minoritários, mas suportados por alguns governantes, decidiram arbitrariamente privar os aficionados de assistir a espectáculos taurinos. Não é isto pura autocracia, despotismo (muito pouco) iluminado, fundamentalismo, ditadura de vontades, mas então, isto é ser progressista? para mim é um retrocesso ao imperialismo romano, ou então um espelho do actual comunismo norte-coreano.
Os Estados de Direito assentam na separação de poderes e no poder de decisão do povo, com todos os perigos que isso significa, o Volksgeist, o espírito do povo, prevalece sobre a vontade do governante, eleito para representar a Nação.
O problema da Festa dos Toiros é só um, visibilidade, mediatismo, e quem o ataca ou pretende eliminar procura somente protagonismo. Existem problemas gravíssimos de direitos dos animais, de bem estar animal em todo o Globo, mas ao estarem distantes, longínquos e pouco noticiados tornam-se problemas de outros e não conferem estatutos de protagonismo.
Espanha deu um passo de gigante, agora resta concretizar a Declaração e aplicá-la sem reservas em toda a jurisdição.
A Colômbia prepara-se para repor a ordem, anulando uma decisão política, individual de alguém que, por não gostar de touros, proibiu o espectáculo aos demais.
E Portugal? O que fará relativamente a Viana do Castelo?
Um déspota viola direitos, liberdades e garantias, apregoando hinos e odes à Ciência...

Já veremos...






quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Campo Bravo Mexicano: e no princípio havia Atenco.

A Hacienda de Atenco, hoje em dia Ex-Hacienda de Atenco, situada no Vale de Toluca, bem perto da Cidade do México, é a mais antiga ganadaria de Touros de Lide do Planeta Taurino.
A sua origem confunde-se com a conquista do México, à data Nova Espanha.
Em 1526 Hernán Cortés instala-se no fértil e generoso Vale de Toluca e dirigindo-se a seu Pai, Martín Cortés, em carta de 16 de Setembro desse ano, relata com entusiasmo as suas propriedades na Nova Espanha, em especial aquela em "Matlazingo, donde tengo mis ganados de vacas, ovejas y cerdos..." 
Em 1528 Cortés cede ao seu primo e companheiro de conquista, Juan Gutiérrez Altamirano, as localidades de Calimaya, Metepec e Tepemajalco, onde este assentou a Hacienda de Atenco.
Por ordem do Vice Rei D. Luís de Velasco, e com autorização régia de Carlos V, partiram da Velha Espanha, através de Francisco José Altamirano, as primeiras reses de casta Navarra, cedidas pelo Marquês de Santacara e seus descendentes.

E assim se fundou a matriarca de todas as ganadarias, Atenco, em 19 de Novembro de 1528, conservando-se nos dias de hoje no mesmo sítio, com o mesmo ferro e divisa, cujas cores, celeste e branco, têm origem na Nossa Senhora da Conceição de Atenco, Padroeira da Hacienda, Vestida de celeste e branco, no altar da Capela da Hacienda.


Deste modo, com reses crioulas e gado de casta Navarra, oriundo de Espanha, se viveram os primeiros anos na ganadaria, nas mãos dos Condes de Calimaya, descendentes dos Altamirano.


Os Condes de Calimaya venderam a ganadaria a Rafael Barbabosa Arzate em 1878 e aqui atingiu o seu apogeu, tornando-se uma das casas-mãe do campo bravo mexicano . Barbabosa tem a ganadaria até ao seu falecimento, 21 de Março de 1887, quando a deixa em mãos da sua sua viúva e filhos Aurelio, Herlinda, Antonio, Concepción, Juan de Dios, Rafael y Manuel.  
Em 1888 são importadas reses de Zalduendo (da linha Navarra).
Em 25 de Abril de 1897 lidam-se em La Havana, Cuba, dois touros de Atenco, que matou Juan Jiménez “El Ecijano”, tornando-se os primeiros touros mexicanos a serem lidados no estrangeiro.

Em 1910 volta a importar-se da Pátria-Mãe, da ganadaria de Pablo Romero (casta Gallardo), quatro vacas e dois sementais, cruzando-se sangue Gallardo com  Navarra (Zalduendo).


Em 1925 são adquiridos touros da Ganadaria de San Diego de los Padres, de procedência Saltillo, por importação de vacas e sementais ao Marquês de Saltillo, em 1910. 
En 1949 dissolve-se a sociedade dos irmãos Barbabosa e a ganadaria de Atenco fica sob a gerência de Manuel Barbabosa, até à sua morte em 1958, herdando-a os seus filhos Luis Ignacio e Gabriel, que a vendem, em 1968, a Juan Pérez de la Fuente. 
O novel ganadeiro de Atenco junta dois sementais, em 1977, de José Julián Llaguno procedentes de San Mateo, pela via de Torrecilla, (encaste Saltillo) e seleccionou até ao dia da sua morte, 5 de Março de 1988, passando nesse dia o legado a José Antonio e María del Carmen Pérez de la Fuente. 

A velhinha praça de tentas da Hacienda de Atenco foi palco da evolução da história da Tauromaquia no México e da própria História Universal. Nos dias de hoje predomina o sangue Saltillo, padreador da maioria das ganadarias da República Mexicana. Imortalizou-se um ferro, uma divisa, celeste e branco e já ultrapassou monarquias e repúblicas, revoluções e provações. Não se pode perder! Não se trata de  património tauromáquico, é património histórico e cultural, civilizacional.
Oxalá recuperasse o seu esplendor e pudéssemos voltar a ouvir o rugido da México, na Insurgentes, numa volta no arraste ou no regresso aos currais de um toiro de Atenco, conquistador, com divisa celeste e branco e bênção da Nuestra Señora de la Concepción de Atenco.


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ir aos touros: prazer solitário ou alegria compartilhada

O ato de ir aos touros perde-se nos volumes da nossa História e das nossas histórias.
Manifestação social típica de um Povo, seja este Português, Espanhol, Francês, Americano, não importa, o que de facto importa é o que põe de acordo todos esses cidadãos: a corrida de touros.
Festa do povo para o povo, local de convívio, na corrida  "misturam-se" nobres com plebeus, pródigos com marginais, ínclitos com anónimos. Lugar de culto, não é por acaso que as primeiras touradas se realizaram nas imediações de Catedrais, Igrejas, Capelas e Santuários, para se jogar com a morte, que se jogue com protecção Divina! Até podemos pensar mais: só dois extractos profissionais vestem ouro, Sacerdotes e Toureiros, tal a importância de ambos ofícios.
Em quantas localidades do nosso Pais e da própria Ibéria o dia da procissão coincide com o dia da tourada? será acaso, para mim não, nada é ao acaso.
Mas será que devemos ir aos touros sozinhos, ou acompanhados? na realidade é indiferente, importante mesmo é ir e estar com respeito.
Quem vai aos touros acompanhado gosta de partilhar conversas, pipas, cervejas e por vezes até porrada. Por sua vez, ir aos touros sozinho pode ser um exercício aborrecido, pois não se participa em nenhuma das actividades em cima indicadas e se a corrida calha a ser aborrecida, transforma-se a tarde num verdadeiro suplicio, ou numa boa sesta, se estivermos confortavelmente (coisa quase impossível) sentados à sombra.
Mas se a corrida é, a contrario entretida, o egoísmo de assistir sozinho permite-nos absorver todos os pormenores, detalhes, cores, sons, cheiros, um conjunto de emoções e sensações que nos acompanharão até aos derradeiros dias da nossa afición.
Aspectos que facilmente se nos escapam estando em cavaqueira. 
Atenção! não criticamos esse modo de estar, reconhecemos até utilidade e motor de afición, discutir um ferro, um lance, uma pega, são fazedores de aficionados, quando ainda não se é e consolidam os que já são.
Também é verdade que é fácil travar conhecimentos numa praça de touros, portanto indo sozinho acabamos por trazer conhecidos. Há vários tipos de vizinhança de tendidos, os que dizem mal de tudo, os que dizem bem de tudo, os que não dizem nada por já não poderem, pois esgotaram a voz e o dinheiro com o vendedor de cerveja, os valentes, os medrosos...é sem dúvida um lugar idiossincrático.
Culturalmente vamos aos touros acompanhados, quer seja de amigos, de família, de companheiros de trabalho, mas sugiro que pelo menos uma vez na vida se vá a uma corrida de touros sozinho, escolhendo caso seja possível um sítio isolado, onde haja o menor número de distracções possíveis para que os nossos sentidos estejam exclusivamente focados na arena e tudo o que aí se passa, prometo que não vai haver arrependimentos, nem vai ser uma tarde mal passada e depois, façam favor de partilhar! 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Regresso às origens: necessidade de fusão

São mais que reconhecidas e confirmadas as virtudes dos touros "Murube - Urquijo", é um facto.
Têm defeitos, como todos os encastes tem, mas ainda assim as qualidades pesam mais na balança.
Todavia temos assistido, no final desta temporada portuguesa, a corridas de figuras do toureio equestre,  com ganadarias Murubeñas que tem deixado muito a desejar. Os mais fatalistas inclusivamente prevendo o Apocalipse, outros apenas reconhecendo um ciclo difícil para os criadores do encaste Murube-Urquijo, a verdade é que a conjuntura desta casta não vive os seus melhores dias e corre o risco de ser secundarizada e terciarizada por aqueles que um dia a puseram no pódio, onde é que já vimos isto acontecer? é que mudando-se os tempos, mudam-se mesmo as vontades...
Voltando às virtudes, quem não aprecia um touro bem feito, com uma morfologia que suporta perfeitamente carne, sendo que suportar não significa que tenham necessariamente de levar essa carne, o touro de lide quer-se harmonioso, não se quer "alimousinado", inventando uma expressão, porque depois não se move, é a natureza, mesmo os mais bravos não conseguem mexer-se e se o touro não anda a Festa não anda.
É também característica destes touros o seu galope cadenciado, "pastueño", como se ouve no México, tranco perfeito, normalmente sem complicações nas suas investidas. Tudo isto existe, se não se engordarem touros de lide como se engordam perus ou bovinos "Macdonalds". Mas aqui a culpa não é dos criadores, é de quem os compra e da lei da oferta e da procura, no caso concreto da procura: touros grandes e gordos, terroríficos!
O problema do encaste Murube-Urquijo, é que mais que qualquer outro encaste, suporta esse peso, mas depois revela-se negativamente no comportamento, que já por si tende em ter pouca duração, são touros que "racham" rapidamente, duram pouco.
Deixando agora um pouco à margem o problema do excesso de peso e focando-nos no próprio encaste do ponto de visto genético, é possível que precise também de um refrescamento, para que volte a encastar-se.
Procurando na mesma origem é difícil que mude alguma coisa para melhor, pois a cabana brava Murubeña está muito uniformizada.
Pode-se, a meu ver, criar alternativas, fazer alquimias, julgo que não se perde nada, pior do que está não fica e é em tempos de crise que surgem ideias criativas e destas resultados positivos.

Num dos apontamentos que fiz para o toureio.com, "O Touro do Amanhã", alvitrei um regresso às origens, uma tentativa de criar um touro com todas as virtudes dos Murube-Urquijo" e com o toque final, da nobreza, casta e fiereza do touro Santa Coloma. E pode não ser um disparate, a origem é a mesma. 
Eduardo Ibarra, o mesmo que dá origem à rama Ibarreña de Santa Coloma (após a venda da sua ganadaria ao próprio Conde Santa Coloma), começa a sua empresa de bravo com a compra, em 1884, da ganadaria de D.ª Dolores Monge, Viuda de Murube
Porque não cruzar ou voltar a cruzar Murube com Santa Coloma, quer da linha Graciliano Perez Tabernero, nas mãos do Ganadeiro Juan Luis Fraile, quer da linha Buendía, bem mais difundida tanto em Espanha (La Quinta, Rehuelga, Felipe Bartolomé) como em Portugal (Ganadaria de Mário Vinhas)? Não resultará? Na Colômbia não só resultou e resulta como é das procedências mais desejadas, mais lidadas e com maiores êxitos e indultos. Sem termos em conta os circunstancialismos externos, o fenotipo, cuja importância já tivemos oportunidade de ver, este cruzamento, exclusivamente do ponto de vista genético, trouxe muitos benefícios ao campo bravo colombiano. Os exemplos mais evidentes são as ganadarias "irmãs" de Ernesto Gutiérrez e Dos Gutiérrez, de Manizales.

Se resolve o problema do tédio e aborrecimento que temos assistido não sabemos, o que sabemos é que pode ser uma caminho para a solução e no máximo, caso não resulte, "perde-se" uma camada, bem sei que não é uma decisão ganadeira fácil, nem económica, mas é um risco e um risco com probabilidade de sucesso, pelos exemplos que nos chegam do ultramar.
Com a fusão de sangue Murube-Urquijo e Santa Coloma pode ganhar-se tanto na questão do excesso de peso, considerando que o touro Santa Coloma é ligeiramente mais leve que o seu parente Murube-Urquijo e no que toca à carga genética é um verdadeiro cocktail de virtudes, sempre com a consciência e aceitação dos defeitos, porque esses, todos os têm e se não quiserem investir e mexer-se, pois isso nem que se criem em computador.





terça-feira, 10 de setembro de 2013

Monoencaste e/ou uniformidade do touro de lide


Podemos definir o conceito de monoencaste como uma exigência/atitude histórica das figuras do toureio em tourear o encaste que nesse período seja mais propenso a êxitos ou, pelo menos, seja menos problemático.
Não se pense que é conceito novo, surgido com o "mono" encaste Domecq, actualmente dominante, sempre existiu na História da Tauromaquia, antes de Domecq prevaleceu como monoencaste, Vasquez, depois Murube, a seguir Galache, Martinez e por aí adiante até chegarmos aos nosso dias e novamente a Domecq.

Mas será que o monoencaste significa uniformidade do touro de lide, dos tipos, pesos, hechuras, pitóns e até as próprias pelagens? Para mim não.
Embora considere o conceito perigoso e ardiloso, tanto para as figuras do toureio,como para o próprio sistema, pois criam-se cada vez mais touros "descafeínados" ou "light" ao encontro das modernas preocupações das sociedades progressistas, vejo o monoencaste apenas como foi definido no início deste post: exigência/atitude histórica das figuras do toureio em tourear o encaste que nesse período seja mais propenso a êxitos ou, pelo menos, seja menos problemático.
 Não considero que implique uma uniformidade do touro de lide, se assim fosse, e tendo em conta o encaste que hoje vinga, Domecq, teríamos centenas de ganadarias iguais em tipo, hechuras, pelagens e comportamentos, sobretudo comportamentos, e assim não acontece, muito pelo contrário.
Senão vejamos, o que têm de comum ganadarias como Garcigrande/Domingo Hernandez e Fuente Ymbro? para além da procedência e origem, muito pouco... a primeira muito cómoda, suave, dificilmente apresenta problemas, mesmo desencastados são touros que passam na muleta e que servem para cortar orelhas. A segunda, mais exigente, encastada, com manual de instruções, quando desencastados, racham e nada se lhes consegue fazer. Para mim triunfar com "Fuente Ymbro" tem mais valor que triunfar com "Garcigande", sobretudo pela diferença comportamental, embora ambos com uma origem comum e não muito distante.

Melhor exemplo é ainda a diferença entre as ganadarias de Jandilla e Zalduendo, estas nasceram precisamente das mesmas mães e pais, pertencem ao monoencaste e mesmo assim a primeira apresenta normalmente mais problemas e mais exigências aos toureiros que a segunda.

Não há definitivamente uma uniformidade do touro de lide, uniformidade enquanto conceito lato que abranja todos os caracteres que fazem um touro de lide, haverá uniformidade, por exemplo, quanto aos pesos, actualmente demasiado aumentados a meu ver, mas isso é apenas uma componente de um todo e requisito imposto pelas empresas.

Como é que se poderá então explicar que dentro do monoencaste haja tantas diferenças? 
o resultado do estudo genético das ganadarias permite concluir que a herança (dos progenitores) pressupõe aproximadamente 30% no comportamento dos animais. Valor essencial que se tem necessariamente de entender com precisão para assim se poder continuar numa seleção utilizando a "ferramenta" genética.
No entanto, no resultado de um touro de lide há outra componente que ocupa 70% da relevância e que não é hereditária, tecnicamente designada de fenótipo, não é mais do que o somatório de todos os circunstancialismos externos a que está submetido um touro desde a sua concepção até à sua morte.
É aqui que eu encontro resposta para tantas diferenças dentro de um monoencaste: no manejo, ou manuseamento, que influencia, sem dúvida, o resultado final de um touro na lide. Ou seja, um correcto manejo pode e melhora o rendimento de uma ganadaria, para além dos 30% que pode herdar dos seus ascendentes e que pode inclusivamente ser uma carga genética riquíssima.
As principais ferramentas de manejo, dos já mencionados factores externos aos quais estão submetidos os animais são o saneamento, a alimentação e o treino.
Só assim se pode explicar o facto de algumas ganadarias iguais, digo iguais quando são formadas por ascendentes idênticos (mesmos sementais, vacas de ventre) passarem por fases tão distintas, geneticamente são idênticas e como tal deveriam comportar-se de forma semelhante, mas os circunstancialismos externos a que estão submetidas diferem, sediadas em diferentes zonas geográficas, com terras e pastagens de valores pouco semelhantes, alimentação distinta...todos estes factores influenciam, e em 70% o rendimento dos touros.
o ganadeiro Ricardo Gallardo (Fuente Ymbro) que nos últimos 5 anos tem tido uma regularidade acima da média, com triunfos sonantes, indultos e prémios nas principais feiras, viu-se este ano envolvido num problema grave, que se começou a notar na corrida "encerrona" de Iván Fandiño em Bayonne, no inicio do passado mês de agosto. Os touros não investiam, não lutavam em varas, queriam fugir, denotavam mansidão, coisa que não abunda nesta vacada. Se as mães e os pais eram os mesmos daqueles touros indultados, com voltas aos ruedos, porque razão haveriam estes de não investir? tratou-se, como depois se apurou, de um problema de alimentação, alterou-se a alimentação, mudou-se um factor externo, ao qual os animais não se adaptaram, e o resultado foi o pior. São erros humanos, podem acontecer, e quando acontecem podem alterar todo o rumo de uma ganadaria, quando não detectados a tempo.
Em conclusão, acredito na teoria do monoencaste APENAS  como aqui foi definido, não acredito na uniformidade do touro de lide, como conceito lato, desde sempre que as figuras do toureio escolheram touros, ganadarias e encastes, assim continuará a ser, não acredito no chavão "É Domecq...é tudo igual" não é, isso não é monoencaste, pois está provado que as circunstâncias externas que rodeiam os animais se reflectem no seu comportamento, assim não sendo, não haveria diferenças entre Jandilla, Zalduendo, Fuente Ymbro, Juan Pedro Domecq, Garcigrande...e há bastantes.

domingo, 1 de setembro de 2013

Sealy season...ou talvez não

Eis-me de volta à escrita blogosférica depois de um período de descanso. Eu sei que devia, mesmo entre um par de mergulhos e uma bola de berlim, ter continuado a escrever, não que faltasse tempo, vontade e até inspiração, de tudo sobrava, faltou-me sim o veículo para tal empreitada: a internet.
Feitas estas considerações introdutórias em forma de desculpa pela inércia, resolvi escrever sobre o mês de Agosto, altura do ano em que metade do Pais ruma para o Sul, a outra metade para o litoral e aqueles que já haviam rumado para fora, voltam às origens. Quererá isto dizer que o interior fica deserto, jamais...jamais!
Importámos uma expressão anglicana para definir este período de férias, molhadas por excelência, trata-se da sealy season, que não é mais do que um dolce fare niente, contra-atacando com um provérbio itálico.
Nesta altura, depois de uma fotografia com uma praia apinhada, que podia perfeitamente ser Armação de Pêra ou Monte-Gordo, com um título destes e num terceiro parágrafo sem qualquer menção à tauromaquia, estarão os leitores a pensar que este blogger tomou demasiado sol, o sal lhe fez mal, ou os rodizios de peixe estavam estragados...
Não, não fiquei maluco, ainda... apenas quero realçar que Agosto, para a tauromaquia, não tem nada de sealy, muito pelo contrário, é o mês mais taurino do ano e muita história tem sido escrita, neste mês, nos anais da tauromaquia. Puerto de Santa Maria, Málaga, Bayonne, Bilbau, Pontevedra, Alcochete, Abiul, para não falar de outras feiras.
Foi também em Agosto, que duas cornadas levaram Manolete, em 1947 e José Falcão, em 1974.
Falando de 2013, o quente Agosto de 2013 foi espectador atento da consagração de Ivan Fandiño, do assumir da liderança de Fuente Ymbro e de um turbilhão de informação taurina que deve e tem de ser digerida nos meses seguintes, não por ser indigesta, mas por respeito e para ser saboreada com parcimónia.
Sealy season...talvez, para os veraneantes, definitivamente não, para quem almeja um cantinho na morada dos Deuses Taurinos, pois estes de tontos não tem nada...

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Com elas ou sem elas...

Problema para alguns, solução para outros, a questão das fundas está longe de ser consensual no meio ganadeiro internacional.
Em Portugal não é propriamente motivo de concórdia ou discórdia uma vez que maioritariamente os touros lidados são para corridas à Portuguesa, onde obrigatoriamente se embolam, não se colocando assim problemas de reconhecimentos e de recusas de corridas inteiras ou touros de determinado encierro por problemas de pitons.
O mesmo não se passa em Espanha, França e América Taurina, onde a integridade dos pitons é condição sine qua non para aprovação das corridas.

Enfundar um touro implica manuseá-lo, levá-lo à manga, manipulá-lo, facto que quer para defensores como para opositores é consensualmente negativo.

De entre os vários argumentos, a favor e contra, há-os mais ou menos sólidos e refutáveis.
Comecemos pelos argumentos favoráveis, enfundar um touro evita infecções próprias das córneas, fungos e erosão natural do piton, reduz a probabilidade de quebra da parte final do corno, o diamante, por se utilizar uma superfície cónica resistente que envolve a ponta do corno, anula a possibilidade de cornadas externas, ou seja, com perfuração.
Em contra desta operação está o facto de, como já vimos, se manusear demasiado os touros, deixando-os "avisados", aumentando o stress, que poderá ter efeitos no decurso da lide. Enfundar, quando mal feito, pode também afectar o normal crescimento do piton, deixando-o privado de oxigénio, podendo inclusivamente atrofiar ou afectar a resistência do mesmo na lide, por exemplo aquando do remate nos burladeros. Há ainda a questão da nobreza e da imagem do touro, a sua dignidade, um animal bravo imponente, com fita adesiva em volta do seu símbolo de força...tirando-lhe assim poder e até humilhando, como defende D. Fernando Cuadri.
No entanto o argumento mais forte e menos refutável contra os cornos enfundados prende-se com o facto de esta operação não evitar baixas, ou mesmo reduzi-las, como já vimos anula o número de cornadas com perfuração, fatais, mas não evita as cornadas internas, sem perfuração e igualmente fatais, embora de forma "invisível" ou imperceptível, provocando graves lesões internas, com derrames e afectando órgãos vitais.

Por aqui se pode ver a tinta que já correu e que ainda irá correr  sobre este tema, eu pessoalmente, se se me colocasse o problema , se fosse ganadeiro, se pudesse e conseguisse lidar em corridas de morte, enfundaria, com todos os prós e contras pesados, retiro mais benefícios que prejuizos, embora reconheça sempre que a dignidade do touro é beliscada com a operação de enfundar.

Longe de estar resolvido, haverá ambas facções e a Festa precisa delas, para que através da experimentação reiterada se consiga obter uma conclusão final, se os touros devem afinal andar com elas ou sem elas.

quarta-feira, 31 de julho de 2013



Herança de Tamarón

Avançava timidamente o verão e o bulício taurino do nosso País tomava forma quando recebemos a triste notícia do desaparecimento, da discreta personagem e aficionadíssima presença nas nossas praças de touros, trajado de fato negro, sob a proteção do seu característico chapéu, de Gentlemen de outros tempos, Sr. Isidoro Maria de Oliveira representante da ganadaria de Herds. de Alberto Cunhal Patrício.
Outrora ganadaria puntera em Espanha, de tal modo que nos anos 60 e 70 se recusava mesmo a lidar em Portugal, tendo em vista a colocação exclusiva em Espanha, para lide e morte à espada das figuras.
Esta aventura começa no ano de 1929, quando os Irmãos Infante da Câmara formaram uma ganadaria com reses procedentes de Murube e Parladé, antes Campos Varela, a quem adquiriram o ferro. Aumentada com vacas de Alves do Rio, de procedência Tamarón e sementais dessa figura pouco conhecida, apenas Juan Belmonte!, e Juan Guardiola, também de origem Parladé.
Saliente-se que esta ganadaria bebe unicamente da fonte Vistahermosa, quer pela rama Murube e Parladé, quer pela rama Tamarón, sendo que esta última ganadaria, da Sra. Marquesa de Tamarón, se forma precisamente com vacas e sementais de Parladé. Vendida em 1920 ao Sr. Conde de la Corte, que dispensa apresentações pela influência genética que aportou a praticamente todas as ganadarias da atualidade, pastando, nos dias de hoje, em “Los Bolsicos”, na raia baixo alentejana, nos campos de Jerez de Los Caballeros.
Voltando ao que nos propusemos a escrever, em 1942 separam-se os Irmãos Infante da Câmara e o lote que correspondeu ao Sr. Emílio, dividiu-se pelos seus filhos, no decurso de 1949, onde a parte que correspondeu a António Infante da Câmara foi comprada pelo Sr. Alberto Cunhal Patrício.
É neste momento que ganha identidade esta vacada brava, com a compra, em 1954, de fêmeas da ganadaria de Oliveira Durão e, em 1967, de vacas e sementais de Oliveira e Irmãos.
A partir do ano de 1971 passa a anunciar-se em nome dos Herdeiros do Sr. Alberto Cunhal Patrício.
Nos anos 80 é refrescada com um semental de Coimbra (Tamarón – Alves do Rio) e mais um lote de vacas e sementais de Oliveira e Irmãos (Parladé), para nos anos 90 receber novamente sangue através da compra de um semental Vasconcellos e Souza D’Andrade (Conde de la Corte).
Finalmente, em 2008, chegou ao Monte do Cerro do Boi e Monte da Igreja, um semental de Herd. De D. José Francisco Varela Crujo (procedência Vistahermosa – Parladé – Juan Pedro Domecq e Torrestrella).
A ganadaria de Herd. de Alberto Cunhal Patrício ganhou muita popularidade nos anos 70, entrando nas principais feiras espanholas e sendo estoqueada pelas figuras da época, Dominguín, Ordoñez, Diego Puerta, Paco Camino, Cordobés, Curro Romero, Niño de la Capea.
A saudosa Monumental de Barcelona foi palco de vários triunfos deste ferro português.
O “Cunhal Patrício” é um touro de tamanho médio, astifino, baixo, com córneas para a frente e para cima, de pelo negro ou negro listão, podendo aparecer chorreados ou raiados, colorados e bragados.
Tal foi a regularidade deste ferro que chegou mesmo a dar origem a outras ganadarias igualmente punteras de Espanha, falo particularmente do ferro de Herd. de Don Bernardino Piriz Carvallo, formada em 1969 com vacas e sementais de Alberto Cunhal Patrício e que foi uma das ganadarias preferidas pelo Faraó de Camas, Curro Romero.
Hoje superiormente conduzida pela Sra. D.ª Margarida Maria Patrício de Oliveira Malta Romeiras, lida sobretudo em Portugal, com a mesma regularidade dos idos anos 70.
Em Espanha, mudaram-se os tempos e logo as vontades e a perda de tipo das maiorias das ganadarias implicou o desinteresse por aquelas, como a de Herd. do Sr. Alberto Cunhal Patrício que, e bem, se mantiveram fiel ao seu touro, no nosso caso, aquele touro imaginado pelo fundador, criado pelo Sr. Isidoro de Oliveira e seguido pela atual representante.
Que bonito ver o carinho empenhado na cria do touro de lide, nas franjas de Évora, no Monte da Igreja, muros de pedra, praça de tentas aprumada, Casa do Lavrador de rodapé índigo, como mandam as regras, aqui como em tudo, não se parece, é-se!

quinta-feira, 25 de julho de 2013



O “Alentejo” da Galeana
Como eborense e aficionado não ficaria bem comigo mesmo senão fizesse uma referência a uma Referência, esta sim com R maiúsculo, a um dos grandes criadores de touros de lide que Évora e Portugal viram nascer, o Sr. Eng. Joaquim Murteira Grave.
Do palmarés deste ferro alentejano, começando pelo pódium dos Concursos de Ganadarias de Évora às voltas ao ruedo em Madrid, passando pelo prémio ao touro mais bravo da Feria de San Isidro, não me vou debruçar sob pena de não ter espaço para tantas palavras.
Pode considerar-se que o início da Ganadaria Murteira Grave remonta ao ano de 1944, quando o Sr. Manuel Joaquim Grave, Pai do Sr. Eng. Joaquim Grave e Avô do atual ganadeiro, Dr. Joaquim Grave, compra uma ponta de vacas e um semental, “Fabeto” ao criador José Lacerda Pinto Barreiros, aquela que se considera a Mãe das ganadarias portuguesas, por todas elas terem ido buscar produtos a esta vacada.
Nessa altura ainda não existia o ferro da Espora, e os animais eram ferrados com o G, de Grave.
Em 1955 morre o Sr. Manuel Joaquim Grave e em 1958 a ganadaria passa a anunciar-se em nome de Joaquim Manuel Murteira Grave, Eng. Joaquim Grave.
É no ano de 1958 que se compra o ferro que todos conhecemos, a Espora, pertencente a Ignacio Sanchez Ibarguen e inscrito na Unión de Criadores de Toros de Lidia.
Com o temido ferro da Espora veio também para Portugal um lote de vacas e sementais provenientes da divisão da Ganadaria de Ramos Paúl, antes Villamarta.
O novel ganadeiro eliminou as reses adquiridas juntamente com o ferro da Unión e comprou vacas e um semental a Guardiola Soto (Parladé) e Samuel Flores (Gamero Civico), que juntou à primitiva vacada que herdou do seu Pai.
Nos anos 70 compra sementais a Carlos Nuñez, da linha Rincón.
Mantendo sempre as vacas de ventre, faz posteriores e sucessivas aquisições de sementais, primeiro, em 1985, chega a Galeana um touro de José Luis Vasconcellos (Tamarón – Conde da Corte), depois, em 1987, vem outro semental, com o ferro de Paquirri, de procedência Nuñez, desta vez da linha Villamarta, em 1994, entra sangue Domecq, proveniente de Juan Pedro Domecq Solís.
Em 1995 volta a refrescar o sangue Nuñez que já tinha, através da compra de vacas e sementais a D. Carlos Nuñez, de ambas as linhas, Rincón e Villamarta. O último sangue a entrar nesta mescla de bravura é de procedência Domecq, via Jandilla.
Desta fusão nasceu um encaste próprio, Murteira Grave, de um tronco comum, Vistahermosa – Parladé – Gamero Cívico – Tamarón – Guardiola Soto - Nuñez (Villamarta e Rincón) e Juan Pedro Domecq (Juan Pedro Domecq Solís e Jandilla).
Touros com peso, de cornamentas generosas e habitualmente acapachadas, de pelo negro, podendo aparecer colorados, burracos e bragados, mas todos sempre muito sérios e exigentes.
Nesta ganadaria a diferença comportamental de um touro de quatro para um de cinco anos é bem evidente, não permitem distrações e tudo tem de ser muito bem feito. Assim podem comprovar diversos Forcados e Cavaleiros que provaram do seu fel quando, negligentemente, perderam o respeito aos “Graves”.
Papel igualmente importante neste percurso tiveram os Matadores de Touros Francisco Mendes, Francisco Ruiz Miguel e Espartaco, o primeiro pela proximidade e amizade com a família Murteira Grave, os segundos, pelas tardes e tardes que se encontraram com os “Murteira” nesse plante taurino.
Não me atrevo a escrever sobre a Família Murteira Grave, verdadeiro viveiro de afición e paixão campera, Casa de Poetisas, Ganadeiros, Cavaleiros, Forcados, e todos dos bons. Um verdadeiro exemplo e um espelho para quem destas vivências se interessa.
Pessoalmente é das ganadarias que mais me marcou, pelo bem e pelo mal, com “Graves” vivi muitas experiências, e todas intensas, nenhuma de ânimo leve, ou grandes triunfos ou grandes fracassos.
Termino esta lembrança com um toureiro que também me marcou e dos poucos que me fez correr lágrimas pelo rosto, no dia da sua despedida da Real Maestranza de Sevilla.
Também ele tinha que estar ligado aos “Murteira”, era justo, os Deuses da Tauromaquia não dormem.
Em Bogotá nasceu o Toureiro que conquistou Madrid, Julio César Rincón Ramírez, Maestro César Rincón.
Quando o “Alentejo”, de Murteira Grave, se cruzou no seu destino ainda esvoaçavam pelas ruas de Madrid os jornais, já lidos, do triunfo, 24 horas antes, culminado na primeira Porta Grande em Las Ventas, a primeira de quatro, consecutivas…depois de ter desorelhado “Santanerito” de Baltasar Ibán.
É então que lhe toca “Alentejo”, touro virtuoso, exigente, não aceitava proximidades, tudo o que se lhe fizesse, tinha que ser com distância, para então despejar o que levava dentro, como aconteceu. Aposto que nas tipografias já se ligavam os motores das velhas máquinas, pois o rugido de Las Ventas seguia nos ventos de Toledo, algo gordo se montava.
Podemos recordar esta tarde mágica aqui https://www.youtube.com/watch?v=v0vTq0uouAg
E ficou para a História um qualquer dia 22 de Maio de 1991, um “Alentejo”, um Colombiano, uma Espora, a Galeana… em Madrid, em Las Ventas do Espiritu Santo, mesmo ali…à Calle de Alcalá.
Eu sei o que tenho em Évora…que de Évora me estou lembrando.

sexta-feira, 19 de julho de 2013



França: em defesa das minorias

Outrora pátria de irredutíveis gauleses, hoje em dia pátria de irredutíveis aficionados.
Talvez a Liberdade, Igualdade e Fraternidade revolucionárias tenham também tido papel no nosso mundo dos touros.
Que a França está uns passos à frente dos seus vizinhos mais ocidentais, quer do ponto de vista económico, politico e até social não é novidade para ninguém, o que espanta, ou talvez já não, é que também esteja a descolar-se de nós no Tour da tauromaquia.
A afición francesa rejubila, pela sua juventude, pela sua vivacidade e sobretudo pela sua expertização, utilizando um estrangeirismo.
Ouvi há pouco tempo o Matador Emílio Muñoz dizendo que os aficionados estão a regredir na ordem inversa ao público, ou seja, há cada vez mais público, é um facto, mas menos aficionado, é uma realidade, constata-se em Espanha e também em Portugal, nas principais praças de touros do nosso pais, muita gente (Graças a Deus, pois assim não sendo, não sei não…) mas poucos aficionados, aquelas caras conhecidas que nos habituámos a ver nos tendidos, a ouvir às portas de cavalos, ou artistas, como preferirem.
Não é sobre este tema que vou escrever, mas é urgente fazermos aficionados, não deixando de estar agradecidos ao público que, ainda, aflui às praças, devemos agora converte-lo.
Voltando à Gália, também não vou escrever sobre o impacto que as suas feiras têm na economia local, turismo ou restauração, deixo esses afazeres para quem de direito.
O que me traz aqui é de facto o papel vital que a França taurina tem na cabana brava, a França é actualmente o balão de oxigénio dos encastes minoritários.
O valor dos encastes minoritários é incalculável, creio querer que nem os taurinos ainda se aperceberam muito bem do que se trata, caso contrário não o (des)tratariam desta maneira, e Deus Queira que quando tomem consciência do património genético, da riqueza cultural e histórica, que faz a ponte para o passado, para os primórdios, para La Lidia, para as pinturas de Goya e Velázquez, não seja tarde demais.
Deve culpar-se em grande parte as figuras, digo-o sem receios, os veedores que tanto seleccionam no campo, exclusivamente num leque de encastes comerciais e com possibilidade de investir, tem vindo a rechaçar essas ganadarias antigas. Que mal virá ao mundo e a uma carreira de uma figura do toureio, tourear, numa temporada, uma corrida de Prieto de la Cal, de Concha y Sierra, de Sanchez Cobaleda!? Muitas das corridas que tanto esmiúçam no campo bravo, dos ditos encastes all stars, vem depois a revelar-se touros de corda, descafeinados.
Se não fosse um empresário francês ter adquirido em 2012 as ganadarias de El Cura de Valverde, puro Conde de La Corte, sobre a qual já tive oportunidade de escrever umas linhas (“A César o que é de César, e a Deus o que é de Deus?”) para o site www.toureio.com, assim como a ganadaria de Concha y Sierra, puro encaste Vasqueño, única, estas duas vacadas desapareciam sem dó nem piedade do panorama taurino, situação que estás prestes a acontecer aos Coquilla de D. Mariano Cinfuentes e já aconteceu aos Atanasios de Campocerrado, aos Cobaledas…
Não podemos deixar que se repita, é triste ver cair ganadarias desta forma, atiradas para o matadouro…
Praças de touros como Céret, Aignan, Alés, Istres, Orthez, Palavas, Vic-Fezensac, Arles, Soustons são os santuários da tauromaquia, daquela tauromaquia antiga, nos seus elencos ganaderos pontuam sempre, sem excepção, Saltillo, Escolar, Prieto de la Cal, Fernando Palha, Adelaida Rodriguez, Miura, Partido de Resina, minorias que alegram o aficionado, entusiasmam o público, normalmente pela espectacularidade da sorte de varas, aqui com papel principal, e podem até aportar triunfos aos toureiros, podem mesmo.
Tenho pena que em Portugal e Espanha não se dê valor a tais minorias, a culpa não é dos criadores, estes tem que vender e as tendências de mercado são outras, importa-se o que vende, elimina-se o que não se quer tourear, numa espécie de pret-a-porter, onde as colecções dos anos anteriores já não estão na moda e vendem-se a preço de carne.
Valha-nos os irredutíveis aficionados gauleses e hoje, tal como disseram os seus antepassados dos Romanos, dirão: sont fous ces Ibériques…e somos mesmo.