terça-feira, 10 de setembro de 2013

Monoencaste e/ou uniformidade do touro de lide


Podemos definir o conceito de monoencaste como uma exigência/atitude histórica das figuras do toureio em tourear o encaste que nesse período seja mais propenso a êxitos ou, pelo menos, seja menos problemático.
Não se pense que é conceito novo, surgido com o "mono" encaste Domecq, actualmente dominante, sempre existiu na História da Tauromaquia, antes de Domecq prevaleceu como monoencaste, Vasquez, depois Murube, a seguir Galache, Martinez e por aí adiante até chegarmos aos nosso dias e novamente a Domecq.

Mas será que o monoencaste significa uniformidade do touro de lide, dos tipos, pesos, hechuras, pitóns e até as próprias pelagens? Para mim não.
Embora considere o conceito perigoso e ardiloso, tanto para as figuras do toureio,como para o próprio sistema, pois criam-se cada vez mais touros "descafeínados" ou "light" ao encontro das modernas preocupações das sociedades progressistas, vejo o monoencaste apenas como foi definido no início deste post: exigência/atitude histórica das figuras do toureio em tourear o encaste que nesse período seja mais propenso a êxitos ou, pelo menos, seja menos problemático.
 Não considero que implique uma uniformidade do touro de lide, se assim fosse, e tendo em conta o encaste que hoje vinga, Domecq, teríamos centenas de ganadarias iguais em tipo, hechuras, pelagens e comportamentos, sobretudo comportamentos, e assim não acontece, muito pelo contrário.
Senão vejamos, o que têm de comum ganadarias como Garcigrande/Domingo Hernandez e Fuente Ymbro? para além da procedência e origem, muito pouco... a primeira muito cómoda, suave, dificilmente apresenta problemas, mesmo desencastados são touros que passam na muleta e que servem para cortar orelhas. A segunda, mais exigente, encastada, com manual de instruções, quando desencastados, racham e nada se lhes consegue fazer. Para mim triunfar com "Fuente Ymbro" tem mais valor que triunfar com "Garcigande", sobretudo pela diferença comportamental, embora ambos com uma origem comum e não muito distante.

Melhor exemplo é ainda a diferença entre as ganadarias de Jandilla e Zalduendo, estas nasceram precisamente das mesmas mães e pais, pertencem ao monoencaste e mesmo assim a primeira apresenta normalmente mais problemas e mais exigências aos toureiros que a segunda.

Não há definitivamente uma uniformidade do touro de lide, uniformidade enquanto conceito lato que abranja todos os caracteres que fazem um touro de lide, haverá uniformidade, por exemplo, quanto aos pesos, actualmente demasiado aumentados a meu ver, mas isso é apenas uma componente de um todo e requisito imposto pelas empresas.

Como é que se poderá então explicar que dentro do monoencaste haja tantas diferenças? 
o resultado do estudo genético das ganadarias permite concluir que a herança (dos progenitores) pressupõe aproximadamente 30% no comportamento dos animais. Valor essencial que se tem necessariamente de entender com precisão para assim se poder continuar numa seleção utilizando a "ferramenta" genética.
No entanto, no resultado de um touro de lide há outra componente que ocupa 70% da relevância e que não é hereditária, tecnicamente designada de fenótipo, não é mais do que o somatório de todos os circunstancialismos externos a que está submetido um touro desde a sua concepção até à sua morte.
É aqui que eu encontro resposta para tantas diferenças dentro de um monoencaste: no manejo, ou manuseamento, que influencia, sem dúvida, o resultado final de um touro na lide. Ou seja, um correcto manejo pode e melhora o rendimento de uma ganadaria, para além dos 30% que pode herdar dos seus ascendentes e que pode inclusivamente ser uma carga genética riquíssima.
As principais ferramentas de manejo, dos já mencionados factores externos aos quais estão submetidos os animais são o saneamento, a alimentação e o treino.
Só assim se pode explicar o facto de algumas ganadarias iguais, digo iguais quando são formadas por ascendentes idênticos (mesmos sementais, vacas de ventre) passarem por fases tão distintas, geneticamente são idênticas e como tal deveriam comportar-se de forma semelhante, mas os circunstancialismos externos a que estão submetidas diferem, sediadas em diferentes zonas geográficas, com terras e pastagens de valores pouco semelhantes, alimentação distinta...todos estes factores influenciam, e em 70% o rendimento dos touros.
o ganadeiro Ricardo Gallardo (Fuente Ymbro) que nos últimos 5 anos tem tido uma regularidade acima da média, com triunfos sonantes, indultos e prémios nas principais feiras, viu-se este ano envolvido num problema grave, que se começou a notar na corrida "encerrona" de Iván Fandiño em Bayonne, no inicio do passado mês de agosto. Os touros não investiam, não lutavam em varas, queriam fugir, denotavam mansidão, coisa que não abunda nesta vacada. Se as mães e os pais eram os mesmos daqueles touros indultados, com voltas aos ruedos, porque razão haveriam estes de não investir? tratou-se, como depois se apurou, de um problema de alimentação, alterou-se a alimentação, mudou-se um factor externo, ao qual os animais não se adaptaram, e o resultado foi o pior. São erros humanos, podem acontecer, e quando acontecem podem alterar todo o rumo de uma ganadaria, quando não detectados a tempo.
Em conclusão, acredito na teoria do monoencaste APENAS  como aqui foi definido, não acredito na uniformidade do touro de lide, como conceito lato, desde sempre que as figuras do toureio escolheram touros, ganadarias e encastes, assim continuará a ser, não acredito no chavão "É Domecq...é tudo igual" não é, isso não é monoencaste, pois está provado que as circunstâncias externas que rodeiam os animais se reflectem no seu comportamento, assim não sendo, não haveria diferenças entre Jandilla, Zalduendo, Fuente Ymbro, Juan Pedro Domecq, Garcigrande...e há bastantes.

Sem comentários:

Enviar um comentário