Herança
de Tamarón
Avançava timidamente o verão e o bulício taurino do
nosso País tomava forma quando recebemos a triste notícia do desaparecimento,
da discreta personagem e aficionadíssima presença nas nossas praças de touros,
trajado de fato negro, sob a proteção do seu característico chapéu, de Gentlemen de outros tempos, Sr. Isidoro
Maria de Oliveira representante da ganadaria de Herds. de
Alberto Cunhal Patrício.
Outrora ganadaria puntera em Espanha, de tal modo que nos
anos 60 e 70 se recusava mesmo a lidar em Portugal, tendo em vista a colocação
exclusiva em Espanha, para lide e morte à espada das figuras.
Esta aventura começa no ano de
1929, quando os Irmãos Infante da Câmara formaram uma ganadaria com reses
procedentes de Murube e Parladé, antes Campos Varela, a quem adquiriram o
ferro. Aumentada com vacas de Alves do Rio, de procedência Tamarón e sementais
dessa figura pouco conhecida, apenas Juan Belmonte!, e Juan Guardiola, também
de origem Parladé.
Saliente-se que esta ganadaria
bebe unicamente da fonte Vistahermosa, quer pela rama Murube e Parladé, quer
pela rama Tamarón, sendo que esta última ganadaria, da Sra. Marquesa de
Tamarón, se forma precisamente com vacas e sementais de Parladé. Vendida em
1920 ao Sr. Conde de la Corte, que dispensa apresentações pela influência
genética que aportou a praticamente todas as ganadarias da atualidade,
pastando, nos dias de hoje, em “Los Bolsicos”, na raia baixo alentejana, nos
campos de Jerez de Los Caballeros.
Voltando ao que nos propusemos a
escrever, em 1942 separam-se os Irmãos Infante da Câmara e o lote que
correspondeu ao Sr. Emílio, dividiu-se pelos seus filhos, no decurso de 1949,
onde a parte que correspondeu a António Infante da Câmara foi comprada pelo Sr.
Alberto Cunhal Patrício.
É neste momento que ganha
identidade esta vacada brava, com a compra, em 1954, de fêmeas da ganadaria de
Oliveira Durão e, em 1967, de vacas e sementais de Oliveira e Irmãos.
A partir do ano de 1971 passa a
anunciar-se em nome dos Herdeiros do Sr. Alberto Cunhal Patrício.
Nos anos 80 é refrescada com um
semental de Coimbra (Tamarón – Alves do Rio) e mais um lote de vacas e
sementais de Oliveira e Irmãos (Parladé), para nos anos 90 receber novamente
sangue através da compra de um semental Vasconcellos e Souza D’Andrade (Conde
de la Corte).
Finalmente, em 2008, chegou ao
Monte do Cerro do Boi e Monte da Igreja, um semental de Herd. De D. José
Francisco Varela Crujo (procedência Vistahermosa – Parladé – Juan Pedro Domecq
e Torrestrella).
A ganadaria de Herd. de Alberto
Cunhal Patrício ganhou muita popularidade nos anos 70, entrando nas principais
feiras espanholas e sendo estoqueada pelas figuras da época, Dominguín,
Ordoñez, Diego Puerta, Paco Camino, Cordobés, Curro Romero, Niño de la Capea.
A saudosa Monumental de
Barcelona foi palco de vários triunfos deste ferro português.
O “Cunhal Patrício” é um touro
de tamanho médio, astifino, baixo, com córneas para a frente e para cima, de
pelo negro ou negro listão, podendo aparecer chorreados ou raiados, colorados e
bragados.
Tal foi a regularidade deste ferro
que chegou mesmo a dar origem a outras ganadarias igualmente punteras de Espanha, falo
particularmente do ferro de Herd. de Don Bernardino Piriz Carvallo, formada em
1969 com vacas e sementais de Alberto Cunhal Patrício e que foi uma das
ganadarias preferidas pelo Faraó de Camas, Curro Romero.
Hoje superiormente conduzida
pela Sra. D.ª Margarida Maria Patrício de Oliveira Malta Romeiras, lida
sobretudo em Portugal, com a mesma regularidade dos idos anos 70.
Em Espanha, mudaram-se os tempos e logo as vontades
e a perda de tipo das maiorias das ganadarias implicou o desinteresse por
aquelas, como a de Herd. do Sr. Alberto Cunhal Patrício que, e bem, se
mantiveram fiel ao seu touro, no nosso caso, aquele touro imaginado pelo
fundador, criado pelo Sr. Isidoro de Oliveira e seguido pela atual
representante.
Que bonito ver o carinho empenhado na cria do touro
de lide, nas franjas de Évora, no Monte da Igreja, muros de pedra, praça de
tentas aprumada, Casa do Lavrador de rodapé índigo, como mandam as regras, aqui
como em tudo, não se parece, é-se!