quarta-feira, 17 de julho de 2013



Ius Imperii

Muito bons toureiros poderiam estar noutro patamar não fosse a “teimosia” de certos Presidentes de Corridas. É certo que os troféus não representam tudo na vida de um toureiro, podem mesmo até nem representar nada, como no caso de Morante de la Puebla, o perfume do seu toureio vai mais além dos narizes das Autoridades, no entanto isto serve para quem está consagrado, para quem já obteve os ditos troféus no passado.
Não são só os touros, as cornadas e a dureza própria da profissão que destroem sonhos de seda e ouro, são também, muitas das vezes a incompetência, ou melhor, a insensibilidade dos Presidentes.
Entendo e aceito que haja rigor no cumprimento das normativas, da mesma forma que compreendo que praças como Madrid, Pamplona, Bilbao, Valência tenham maior responsabilidades e por isso se exija, mas exigir mais não significa tocar a intransigência.
A primeira orelha é do público, está consagrado nos diversos regulamentos taurinos, diversos, porque cada Região Autónoma Espanhola dispõe de tal normativa. A segunda orelha é critério do Presidente, no entanto este não pode simplesmente fechar os olhos à vox populi.
O mais grave é que até na concessão do primeiro troféu por vezes assistimos a tamanhas injustiças. Não é fácil apurar estatisticamente maiorias, mas bolas! Os lenços brancos são bem visíveis e as vozes audíveis num recinto com vinte mil lugares.
A festa de touros é do povo e para o povo, é quem opina, quem exige e quem protesta.
O que assistimos na Isidrada do corrente ano com o matador Alberto Aguilar é uma verdadeira manifestação de arbitrariedade, a opinião era consensual, toda a praça queria o troféu, a faena era de orelha e apenas um senhor, fazendo bandeira do seu Ius Imperii, teve opinião contrária, não foi a vontade de todos, como está regulado, que prevaleceu, foi a vontade de um capricho, apenas uma alma no meio de vinte mil.
Mais orelha menos orelha…o problema é que esta orelha não era apenas um troféu a somar, era a segunda orelha numa corrida da Feria de San Isidro, era o abrir da Porta dos Sonhos, era o telemóvel do Maestro Campuzano a tocar incessantemente, era tudo…mas não foi nada.
Não sei o que significará sair em ombros em Las Ventas, nunca saberei, o Sr. Presidente também não sabe e também nunca irá saber, mas ficará para história por ter negado discricionariamente esse direito a um toureiro valente, com valor e que seguramente cruzará muitas vezes essa mesma Porta, talvez olhando por cima do ombro e dizendo baixinho que a chave está na sua mão. Daquela vez saiu caminhando, por onde entrou e chorando de impotência e tristeza pura, não por não ter conseguido fazer o que se predispunha, mas por alguém lhe ter negado essa faculdade.
Ninguém tem o direito de destruir, desta maneira, sonhos a jovens toureiros, a festa precisa deles, a profissão e a dureza que lhe está adjacente é já suficientemente carrasca e encarrega-se ela própria de fazer uma seleção natural, que não seja nunca mais uma decisão Presidencial a tornar o sonho em pesadelo de seda e ouro.

17 de julho de 2013

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