O “Alentejo” da Galeana
Como eborense e aficionado não ficaria bem comigo
mesmo senão fizesse uma referência a uma Referência, esta sim com R maiúsculo,
a um dos grandes criadores de touros de lide que Évora e Portugal viram nascer,
o Sr. Eng. Joaquim Murteira Grave.
Do palmarés deste ferro alentejano, começando pelo
pódium dos Concursos de Ganadarias de Évora às voltas ao ruedo em Madrid,
passando pelo prémio ao touro mais bravo da Feria de San Isidro, não me vou
debruçar sob pena de não ter espaço para tantas palavras.
Pode considerar-se que o início da Ganadaria
Murteira Grave remonta ao ano de 1944, quando o Sr. Manuel Joaquim Grave, Pai
do Sr. Eng. Joaquim Grave e Avô do atual ganadeiro, Dr. Joaquim Grave, compra uma
ponta de vacas e um semental, “Fabeto” ao criador José Lacerda Pinto Barreiros,
aquela que se considera a Mãe das ganadarias portuguesas, por todas elas terem
ido buscar produtos a esta vacada.
Nessa altura ainda não existia o ferro da Espora, e
os animais eram ferrados com o G, de Grave.
Em 1955 morre o Sr. Manuel Joaquim Grave e em 1958
a ganadaria passa a anunciar-se em nome de Joaquim Manuel Murteira Grave, Eng.
Joaquim Grave.
É no ano de 1958 que se compra o ferro que todos
conhecemos, a Espora, pertencente a Ignacio Sanchez Ibarguen e inscrito na
Unión de Criadores de Toros de Lidia.
Com o temido ferro da Espora veio também para
Portugal um lote de vacas e sementais provenientes da divisão da Ganadaria de
Ramos Paúl, antes Villamarta.
O novel ganadeiro eliminou as reses adquiridas
juntamente com o ferro da Unión e comprou vacas e um semental a Guardiola Soto
(Parladé) e Samuel Flores (Gamero Civico), que juntou à primitiva vacada que
herdou do seu Pai.
Nos anos 70 compra sementais a Carlos Nuñez, da
linha Rincón.
Mantendo sempre as vacas de ventre, faz posteriores
e sucessivas aquisições de sementais, primeiro, em 1985, chega a Galeana um
touro de José Luis Vasconcellos (Tamarón – Conde da Corte), depois, em 1987,
vem outro semental, com o ferro de Paquirri, de procedência Nuñez, desta vez da
linha Villamarta, em 1994, entra sangue Domecq, proveniente de Juan Pedro
Domecq Solís.
Em 1995 volta a refrescar o sangue Nuñez que já
tinha, através da compra de vacas e sementais a D. Carlos Nuñez, de ambas as
linhas, Rincón e Villamarta. O último sangue a entrar nesta mescla de bravura é
de procedência Domecq, via Jandilla.
Desta fusão nasceu um encaste próprio, Murteira Grave,
de um tronco comum, Vistahermosa – Parladé – Gamero Cívico – Tamarón –
Guardiola Soto - Nuñez (Villamarta e Rincón) e Juan Pedro Domecq (Juan Pedro
Domecq Solís e Jandilla).
Touros com peso, de cornamentas generosas e
habitualmente acapachadas, de pelo negro, podendo aparecer colorados, burracos
e bragados, mas todos sempre muito sérios e exigentes.
Nesta ganadaria a diferença comportamental de um
touro de quatro para um de cinco anos é bem evidente, não permitem distrações e
tudo tem de ser muito bem feito. Assim podem comprovar diversos Forcados e
Cavaleiros que provaram do seu fel quando, negligentemente, perderam o respeito
aos “Graves”.
Papel igualmente importante neste percurso tiveram
os Matadores de Touros Francisco Mendes, Francisco Ruiz Miguel e Espartaco, o
primeiro pela proximidade e amizade com a família Murteira Grave, os segundos,
pelas tardes e tardes que se encontraram com os “Murteira” nesse plante
taurino.
Não me atrevo a escrever sobre a Família Murteira
Grave, verdadeiro viveiro de afición e paixão campera, Casa de Poetisas, Ganadeiros,
Cavaleiros, Forcados, e todos dos bons. Um verdadeiro exemplo e um espelho para
quem destas vivências se interessa.
Pessoalmente é das ganadarias que mais me marcou,
pelo bem e pelo mal, com “Graves” vivi muitas experiências, e todas intensas,
nenhuma de ânimo leve, ou grandes triunfos ou grandes fracassos.
Termino esta lembrança com um toureiro que também
me marcou e dos poucos que me fez correr lágrimas pelo rosto, no dia da sua
despedida da Real Maestranza de Sevilla.
Também ele tinha que estar ligado aos “Murteira”,
era justo, os Deuses da Tauromaquia não dormem.
Em Bogotá nasceu o Toureiro que conquistou Madrid, Julio
César Rincón Ramírez, Maestro César Rincón.
Quando o “Alentejo”, de Murteira Grave, se cruzou
no seu destino ainda esvoaçavam pelas ruas de Madrid os jornais, já lidos, do
triunfo, 24 horas antes, culminado na primeira Porta Grande em Las Ventas, a
primeira de quatro, consecutivas…depois de ter desorelhado “Santanerito” de
Baltasar Ibán.
É então que lhe toca “Alentejo”, touro virtuoso,
exigente, não aceitava proximidades, tudo o que se lhe fizesse, tinha que ser
com distância, para então despejar o que levava dentro, como aconteceu. Aposto
que nas tipografias já se ligavam os motores das velhas máquinas, pois o rugido
de Las Ventas seguia nos ventos de Toledo, algo gordo se montava.
Podemos recordar esta tarde mágica aqui https://www.youtube.com/watch?v=v0vTq0uouAg
E ficou para a História um qualquer dia 22 de Maio
de 1991, um “Alentejo”, um Colombiano, uma Espora, a Galeana… em Madrid, em Las
Ventas do Espiritu Santo, mesmo ali…à Calle
de Alcalá.
Eu sei o que tenho em Évora…que de Évora me estou
lembrando.
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