sexta-feira, 19 de julho de 2013



França: em defesa das minorias

Outrora pátria de irredutíveis gauleses, hoje em dia pátria de irredutíveis aficionados.
Talvez a Liberdade, Igualdade e Fraternidade revolucionárias tenham também tido papel no nosso mundo dos touros.
Que a França está uns passos à frente dos seus vizinhos mais ocidentais, quer do ponto de vista económico, politico e até social não é novidade para ninguém, o que espanta, ou talvez já não, é que também esteja a descolar-se de nós no Tour da tauromaquia.
A afición francesa rejubila, pela sua juventude, pela sua vivacidade e sobretudo pela sua expertização, utilizando um estrangeirismo.
Ouvi há pouco tempo o Matador Emílio Muñoz dizendo que os aficionados estão a regredir na ordem inversa ao público, ou seja, há cada vez mais público, é um facto, mas menos aficionado, é uma realidade, constata-se em Espanha e também em Portugal, nas principais praças de touros do nosso pais, muita gente (Graças a Deus, pois assim não sendo, não sei não…) mas poucos aficionados, aquelas caras conhecidas que nos habituámos a ver nos tendidos, a ouvir às portas de cavalos, ou artistas, como preferirem.
Não é sobre este tema que vou escrever, mas é urgente fazermos aficionados, não deixando de estar agradecidos ao público que, ainda, aflui às praças, devemos agora converte-lo.
Voltando à Gália, também não vou escrever sobre o impacto que as suas feiras têm na economia local, turismo ou restauração, deixo esses afazeres para quem de direito.
O que me traz aqui é de facto o papel vital que a França taurina tem na cabana brava, a França é actualmente o balão de oxigénio dos encastes minoritários.
O valor dos encastes minoritários é incalculável, creio querer que nem os taurinos ainda se aperceberam muito bem do que se trata, caso contrário não o (des)tratariam desta maneira, e Deus Queira que quando tomem consciência do património genético, da riqueza cultural e histórica, que faz a ponte para o passado, para os primórdios, para La Lidia, para as pinturas de Goya e Velázquez, não seja tarde demais.
Deve culpar-se em grande parte as figuras, digo-o sem receios, os veedores que tanto seleccionam no campo, exclusivamente num leque de encastes comerciais e com possibilidade de investir, tem vindo a rechaçar essas ganadarias antigas. Que mal virá ao mundo e a uma carreira de uma figura do toureio, tourear, numa temporada, uma corrida de Prieto de la Cal, de Concha y Sierra, de Sanchez Cobaleda!? Muitas das corridas que tanto esmiúçam no campo bravo, dos ditos encastes all stars, vem depois a revelar-se touros de corda, descafeinados.
Se não fosse um empresário francês ter adquirido em 2012 as ganadarias de El Cura de Valverde, puro Conde de La Corte, sobre a qual já tive oportunidade de escrever umas linhas (“A César o que é de César, e a Deus o que é de Deus?”) para o site www.toureio.com, assim como a ganadaria de Concha y Sierra, puro encaste Vasqueño, única, estas duas vacadas desapareciam sem dó nem piedade do panorama taurino, situação que estás prestes a acontecer aos Coquilla de D. Mariano Cinfuentes e já aconteceu aos Atanasios de Campocerrado, aos Cobaledas…
Não podemos deixar que se repita, é triste ver cair ganadarias desta forma, atiradas para o matadouro…
Praças de touros como Céret, Aignan, Alés, Istres, Orthez, Palavas, Vic-Fezensac, Arles, Soustons são os santuários da tauromaquia, daquela tauromaquia antiga, nos seus elencos ganaderos pontuam sempre, sem excepção, Saltillo, Escolar, Prieto de la Cal, Fernando Palha, Adelaida Rodriguez, Miura, Partido de Resina, minorias que alegram o aficionado, entusiasmam o público, normalmente pela espectacularidade da sorte de varas, aqui com papel principal, e podem até aportar triunfos aos toureiros, podem mesmo.
Tenho pena que em Portugal e Espanha não se dê valor a tais minorias, a culpa não é dos criadores, estes tem que vender e as tendências de mercado são outras, importa-se o que vende, elimina-se o que não se quer tourear, numa espécie de pret-a-porter, onde as colecções dos anos anteriores já não estão na moda e vendem-se a preço de carne.
Valha-nos os irredutíveis aficionados gauleses e hoje, tal como disseram os seus antepassados dos Romanos, dirão: sont fous ces Ibériques…e somos mesmo.





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