França: em defesa das minorias
Outrora pátria de irredutíveis gauleses, hoje em
dia pátria de irredutíveis aficionados.
Talvez a Liberdade, Igualdade e Fraternidade revolucionárias
tenham também tido papel no nosso mundo dos touros.
Que a França está uns passos à frente dos seus
vizinhos mais ocidentais, quer do ponto de vista económico, politico e até social
não é novidade para ninguém, o que espanta, ou talvez já não, é que também
esteja a descolar-se de nós no Tour da tauromaquia.
A afición francesa rejubila, pela sua juventude,
pela sua vivacidade e sobretudo pela sua expertização,
utilizando um estrangeirismo.
Ouvi há pouco tempo o Matador Emílio Muñoz dizendo
que os aficionados estão a regredir na ordem inversa ao público, ou seja, há
cada vez mais público, é um facto, mas menos aficionado, é uma realidade,
constata-se em Espanha e também em Portugal, nas principais praças de touros do
nosso pais, muita gente (Graças a Deus, pois assim não sendo, não sei não…) mas
poucos aficionados, aquelas caras conhecidas que nos habituámos a ver nos
tendidos, a ouvir às portas de cavalos, ou artistas, como preferirem.
Não é sobre este tema que vou escrever, mas é
urgente fazermos aficionados, não deixando de estar agradecidos ao público que,
ainda, aflui às praças, devemos agora converte-lo.
Voltando à Gália, também não vou escrever sobre o
impacto que as suas feiras têm na economia local, turismo ou restauração, deixo
esses afazeres para quem de direito.
O que me traz aqui é de facto o papel vital que a
França taurina tem na cabana brava, a França é actualmente o balão de oxigénio
dos encastes minoritários.
O valor dos encastes minoritários é incalculável,
creio querer que nem os taurinos ainda se aperceberam muito bem do que se trata,
caso contrário não o (des)tratariam desta maneira, e Deus Queira que quando
tomem consciência do património genético, da riqueza cultural e histórica, que
faz a ponte para o passado, para os primórdios, para La Lidia, para as pinturas de Goya e Velázquez, não seja tarde demais.
Deve culpar-se em grande parte as figuras, digo-o
sem receios, os veedores que tanto seleccionam no campo, exclusivamente num leque
de encastes comerciais e com possibilidade de investir, tem vindo a rechaçar
essas ganadarias antigas. Que mal virá ao mundo e a uma carreira de uma figura
do toureio, tourear, numa temporada, uma corrida de Prieto de la Cal, de Concha
y Sierra, de Sanchez Cobaleda!? Muitas das corridas que tanto esmiúçam no campo
bravo, dos ditos encastes all stars, vem
depois a revelar-se touros de corda, descafeinados.
Se não fosse um empresário francês ter adquirido em
2012 as ganadarias de El Cura de Valverde, puro Conde de La Corte, sobre a qual
já tive oportunidade de escrever umas linhas (“A César o que é
de César, e a Deus o que é de Deus?”) para o site www.toureio.com, assim como a ganadaria de
Concha y Sierra, puro encaste Vasqueño, única, estas duas vacadas desapareciam
sem dó nem piedade do panorama taurino, situação que estás prestes a acontecer
aos Coquilla de D. Mariano Cinfuentes e já aconteceu aos Atanasios de Campocerrado,
aos Cobaledas…
Não podemos deixar que se repita, é triste ver cair
ganadarias desta forma, atiradas para o matadouro…
Praças de touros como Céret, Aignan, Alés, Istres,
Orthez, Palavas, Vic-Fezensac, Arles, Soustons são os santuários da
tauromaquia, daquela tauromaquia antiga, nos seus elencos ganaderos pontuam
sempre, sem excepção, Saltillo, Escolar, Prieto de la Cal, Fernando Palha, Adelaida
Rodriguez, Miura, Partido de Resina, minorias que alegram o aficionado,
entusiasmam o público, normalmente pela espectacularidade da sorte de varas,
aqui com papel principal, e podem até aportar triunfos aos toureiros, podem
mesmo.
Tenho pena que em Portugal e Espanha não se dê
valor a tais minorias, a culpa não é dos criadores, estes tem que vender e as tendências
de mercado são outras, importa-se o que vende, elimina-se o que não se quer
tourear, numa espécie de pret-a-porter, onde
as colecções dos anos anteriores já não estão na moda e vendem-se a preço de
carne.
Valha-nos os irredutíveis aficionados gauleses e
hoje, tal como disseram os seus antepassados dos Romanos, dirão: sont fous ces
Ibériques…e somos mesmo.
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