segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Regresso às origens: necessidade de fusão

São mais que reconhecidas e confirmadas as virtudes dos touros "Murube - Urquijo", é um facto.
Têm defeitos, como todos os encastes tem, mas ainda assim as qualidades pesam mais na balança.
Todavia temos assistido, no final desta temporada portuguesa, a corridas de figuras do toureio equestre,  com ganadarias Murubeñas que tem deixado muito a desejar. Os mais fatalistas inclusivamente prevendo o Apocalipse, outros apenas reconhecendo um ciclo difícil para os criadores do encaste Murube-Urquijo, a verdade é que a conjuntura desta casta não vive os seus melhores dias e corre o risco de ser secundarizada e terciarizada por aqueles que um dia a puseram no pódio, onde é que já vimos isto acontecer? é que mudando-se os tempos, mudam-se mesmo as vontades...
Voltando às virtudes, quem não aprecia um touro bem feito, com uma morfologia que suporta perfeitamente carne, sendo que suportar não significa que tenham necessariamente de levar essa carne, o touro de lide quer-se harmonioso, não se quer "alimousinado", inventando uma expressão, porque depois não se move, é a natureza, mesmo os mais bravos não conseguem mexer-se e se o touro não anda a Festa não anda.
É também característica destes touros o seu galope cadenciado, "pastueño", como se ouve no México, tranco perfeito, normalmente sem complicações nas suas investidas. Tudo isto existe, se não se engordarem touros de lide como se engordam perus ou bovinos "Macdonalds". Mas aqui a culpa não é dos criadores, é de quem os compra e da lei da oferta e da procura, no caso concreto da procura: touros grandes e gordos, terroríficos!
O problema do encaste Murube-Urquijo, é que mais que qualquer outro encaste, suporta esse peso, mas depois revela-se negativamente no comportamento, que já por si tende em ter pouca duração, são touros que "racham" rapidamente, duram pouco.
Deixando agora um pouco à margem o problema do excesso de peso e focando-nos no próprio encaste do ponto de visto genético, é possível que precise também de um refrescamento, para que volte a encastar-se.
Procurando na mesma origem é difícil que mude alguma coisa para melhor, pois a cabana brava Murubeña está muito uniformizada.
Pode-se, a meu ver, criar alternativas, fazer alquimias, julgo que não se perde nada, pior do que está não fica e é em tempos de crise que surgem ideias criativas e destas resultados positivos.

Num dos apontamentos que fiz para o toureio.com, "O Touro do Amanhã", alvitrei um regresso às origens, uma tentativa de criar um touro com todas as virtudes dos Murube-Urquijo" e com o toque final, da nobreza, casta e fiereza do touro Santa Coloma. E pode não ser um disparate, a origem é a mesma. 
Eduardo Ibarra, o mesmo que dá origem à rama Ibarreña de Santa Coloma (após a venda da sua ganadaria ao próprio Conde Santa Coloma), começa a sua empresa de bravo com a compra, em 1884, da ganadaria de D.ª Dolores Monge, Viuda de Murube
Porque não cruzar ou voltar a cruzar Murube com Santa Coloma, quer da linha Graciliano Perez Tabernero, nas mãos do Ganadeiro Juan Luis Fraile, quer da linha Buendía, bem mais difundida tanto em Espanha (La Quinta, Rehuelga, Felipe Bartolomé) como em Portugal (Ganadaria de Mário Vinhas)? Não resultará? Na Colômbia não só resultou e resulta como é das procedências mais desejadas, mais lidadas e com maiores êxitos e indultos. Sem termos em conta os circunstancialismos externos, o fenotipo, cuja importância já tivemos oportunidade de ver, este cruzamento, exclusivamente do ponto de vista genético, trouxe muitos benefícios ao campo bravo colombiano. Os exemplos mais evidentes são as ganadarias "irmãs" de Ernesto Gutiérrez e Dos Gutiérrez, de Manizales.

Se resolve o problema do tédio e aborrecimento que temos assistido não sabemos, o que sabemos é que pode ser uma caminho para a solução e no máximo, caso não resulte, "perde-se" uma camada, bem sei que não é uma decisão ganadeira fácil, nem económica, mas é um risco e um risco com probabilidade de sucesso, pelos exemplos que nos chegam do ultramar.
Com a fusão de sangue Murube-Urquijo e Santa Coloma pode ganhar-se tanto na questão do excesso de peso, considerando que o touro Santa Coloma é ligeiramente mais leve que o seu parente Murube-Urquijo e no que toca à carga genética é um verdadeiro cocktail de virtudes, sempre com a consciência e aceitação dos defeitos, porque esses, todos os têm e se não quiserem investir e mexer-se, pois isso nem que se criem em computador.





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