quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Por morrer uma andorinha não se acaba a Primavera

 O ano de 2013, sobretudo o seu final foi particularmente duro com as gentes dos toiros, muitos e bons ganadeiros partiram, talvez para um lugar idílico, sem broncas, caídas e faltas de força, onde todos os touros investem incansavelmente, o triunfo é o denominador comum, se assim é ou não, não sei…mas gosto de pensar que sim.
Já volvido o calendário gregoriano, o campo bravo não poderia ter começado o ano da pior maneira, primeiro partiu D. Luís Terrón e depois D. Nicolás Fraile Martín, ambos com 77 anos e duas proeminentes figuras na nobre e difícil arte de criar touros de lide.

D. Luís Terrón, um dos mais bem-sucedidos defensores do encaste Murube-Urquijo, com uma ganadaria fundada nos anos 90 do século passado, a partir da primitiva ganadaria de Vicente Ruiz “El Soro”, figura do toureiro nos anos 80 e 90, formada por vacas e sementais Capea, outra vacada na mão de um matador de touros retirado, Pedro Gutiérrez Moya, “Niño de La Capea”.

Terrón, desde o seu início e com base numa seleção cuidada e aprumada, dando primazia ao tão característico galope cadenciado e zeloso dos “Murube” conseguiu rapidamente instalar-se nas principais feiras e praças de Espanha, obtendo cartel entre as corridas fortes de rejoneo.
Quando se fala em dehesa extremeña, é incontornável não pensar em Terrón e nos seus Murubes.














Por sua vez, D. Nicolás Fraile Martín pertencia a uma Ínclita Geração de ganadeiros de lide, filho de D. Juan Luis Fraile Valle e irmão de Moisés, Lorenzo e Juan Luís, este também prematuramente desaparecido, guardiões de um dos segredos mais bem guardados da bravura ibérica, a genética Conde de La Corte, Atanasio Fernández e Lisardo Sánchez.



Nesta privilegiada e sábia família concentram-se “apenas” as Ganadarias de Valdefresno, El Pilar, Puerto de San Lorenzo, La Ventana del Puerto, Juan Luis Fraile Martín e Hermanos de Fraile Mazas, quartéis-generais e praças-fortes da armada Atanásio-Lisardo, de Salamanca para o Mundo.
D. Nicolás, titular das ganadarias de Valdefresno e Hermanos Fraile Mazas partiu agora, num inverno rigoroso, deixando um legado vasto, difícil, mas destinado à fortuna.
A sua vacada, permanência assídua no ciclo Isidril desde 1981, quase sem interrupção e trampolim para muitos toureiros, que, se hoje são figuras do toureio, a este ferro o devem, Valdefresno.







Ganadaria que contraria modas e predileções, dura quanto baste, exigente, como tem de ser e com a classe que lhe é demandada, pouco se pode pedir mais a estes Senhores, apenas que os seus herdeiros mantenham o nível que nos habituaram, não é fácil, mas também não será difícil, mesmo sem conhecer pessoalmente a figura patriarcal, quase aposto que não partiu sem antes deixar o que tão bem tinha organizado na sua cabeça e nas suas mãos, e, se fizerem como um dia pensou, então Las Ventas, o Mundo e eu, continuaremos a assistir ao destrancar daquela tão difícil fechadura que abre a Porta Grande dos Sonhos.
Por morrer uma andorinha não se acaba a primavera, mas a que se aproxima será certamente mais triste.

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